Amor Fati

Cinema, literatura, filosofia y otras cositas más...

quarta-feira, abril 26, 2006

grande pessoa

Só quem escreve sabe por que o faz.
Esses dias eu lia sobre Fernando Pessoa.
Pessoa e seus heterônomos.
Seus personagens que se transformavam em autores.
Escritores por vezes até superiores a ele próprio.
Personagens com histórias de vida,
traumas de infância,
gostos, personalidade e estilos próprios.
Confesso que num primeiro olhar, me pareceu -
até certo ponto - um alto grau de esquizofrenia.
Mas não.
Impossível escrever sem um passado.
Para que algo seja dito, é essencial que algo seja vivido.
Ninguém sem uma história consegue discorrer sobre alguma coisa.
Sabendo disso,
Pessoa criou histórias para cada um de seus heterônomos
Assim sendo,
todos tinham algo a contar.
Algo que talvez não pudesse ser contado por uma pessoa só.
Esperto esse Pessoa.
Quiçá no fim das contas,
os reais esquizofrênicos sejamos nós mesmos.
Que enxergamos a realidade sob um único prisma.
Sendo que há muito mais o que ser visto.

Falimentar, meu caro Watson

Estou completamente falida.
Há pouco, cheguei a conclusão do quão pouco é necessário para viver.
Digo necessário mesmo.
Não raro criamos necessidades virtuais.
Desejos que, enquanto não satisfeitos, trazem uma angústia terrível.
Meros caprichos.
Ninguém é mais feliz,
mas feliz de fato,
pela simples presença de peças diversas num guarda-roupa,
ou pelas cilindradas de um possante,
ou ainda por escadas a subir em um triplex.
A felicidade está mesmo é nas pequenas coisas.
Naquelas que a gente sequer nota.
O essencial é invisível aos olhos,
como diria Saint Exupery.
Posso andar falida,
mas a vida continua boa.
Talvez quando eu puder reformar meu armário,
trocar de carro ou comprar um apartamento,
eu fique mais alegre, mais faceira.
Mas não mais feliz.
Isso vem de dentro.
E o que é melhor: ninguém tira.

Errante

Andei pesquisando sobre a falibilidade humana -
o termo é esse mesmo.
Que todos erram, é sabido.
O ponto crucial não é esse.
Completamente aceitável que alguém cometa um erro.
O que choca, não é o simples erro em si,
mas admitir que erramos.
E não me refiro a admitir para os outros.
É admitir para nós mesmos que cometemos um erro.
É aceitar que também somos falíveis.
E o mais difícil,
não é conseguir o perdão alheio.
Difícil mesmo,
é perdoarmos a nós próprios.
Não pelo erro em si,
mas sim, pela nossa falibilidade.
Pelo fato de cometermos erros.
Tal qual todo o mundo.
Se todos de fato erram,
por que só por se tratar de nós mesmos seria diferente?

terça-feira, abril 25, 2006

Godotorizando

Tenho sofrido de relogiofrenia ultimamente.
Passo o tempo todo olhando o relógio.
Como se esperasse o tempo passar.
Como se algo estivesse para acontecer.
Como se o tempo fosse trazer algo de novo, de diferente.

Se essa é a definição técnica de ansiedade eu não sei.
Mas ansiedade em relação a que?
Ao amanhã? Ao depois?
Como se o futuro existisse.
Como se o amanhã fosse ser diferente do hoje,
ou do ontem.
Que nada.
Tempo é criação nossa, da humanidade.
O que passa é a vida.
E essa, tem demorado a passar...

quarta-feira, abril 19, 2006

Arriba y abajo

Engraçado como a gente perde tempo tentando decifrar os outros.
No fundo, somos todos iguais.
E não se trata aqui de propaganda partidária comunista.
Nossas fraquezas, incertezas e angústias repetem-se,
em maior ou menor grau,
em todos os indivíduos habitantes da Terra.
Nem a mais bem resolvida das criaturas,
deixa de acordar dia que outro se sentindo o último dos mortais.
Coisa estranha essa de auto-estima.
Há dias em que ela está nas nuvens, pairando no ar.
Como se nada de ninguém pude exercer qualquer tipo de influência.
Impossível de ser puxada para baixo,
não importa o que aconteça.
Vez que outra, a situação é a inversa.
A gravidade torna-se mais pesada do que nunca.
E não há santo que a faça subir.
Não há comentário, estímulo ou incentivo que a aumente.
Ela fica lá, baixinha,
com medo de emergeir à superficie.
Vida de autos e baixos essa nossa.
Mas também, se assim não fosse,
qual seria a graça?

AMOR É OUTRA COISA

AMOR É OUTRA COISA.

Não me ame, me espere perto do rio e se permita sorrir, leve flores baldias ou algodão doce, me chame de uma outra coisa qualquer que não seja o meu nome, me espere com fome e iremos almoçar, em qualquer lugar, não longe dali. Não me ame, deite-se junto de mim com o hálito de menta refrescante, comente seu livro, aqueça meus pés, cubra meus ombros quando já for madrugada, saia do quarto sem esbarrar em nada, tomando cuidado para eu não acordar. Não me ame, me queira por perto nos dias de tristeza, no dia que o peito quer só sossegar, não me conte nada, não me explique razões, faça só uma laranjada, um sanduíche e divida em dois.

Maravilhoso, não?
Texto da minha xará Ticcia.
Circunstâncias Circunspectas
www.megeras.com

segunda-feira, abril 17, 2006

*samskrta*

Em um mundo digital,
sou uma pessoa analógica.
Vivo de analogias.
Dia desses,
mais uma me veio a cabeça.
Pensava cá com meus botões,
como por vezes somos incompreendidos,
ou mal interpretados.
Às vezes me sinto como um livro escrito em sânscrito:
muitos acham interessante,
outros consideram encantador,
grande parte acha extremamente diferente,
alguns até exótico,
nem todos se animama a ler
e a maioria simplesmente não entende.

Amor em Trapézios

"Falemos de encanto"
Encanto é o sentimento da descoberta,
é a corrida pelo ouro,
a necessidade de contar a todos o que foi encontrado,
de contemplar a novidade.
É o momento que antecede a tudo.
Em que cada gesto,
cada palavra,
cada sinal
representa uma nova conquista,
rumo ao desconhecido que se apresenta.
Mistério esse,
que com todas as nossas forças,
queremos desvendar.

"Falemos de Paixão"
A paixão é silenciosa.
Ela nos consome internamente,
sem que nada possamos fazer.
É olhar sem ter foças de proferir uma palavra.
É mais que um simples encanto.
Não há porque alardeá-la.
Seu sentimento é inexpressável.
Por mais apurados que tentemos ser,
a explanação é sempre aquém.
Inútil traduzí-la.
Inútil e frustante.
É preciso por ela passar,
por ela ser consumido,
para que seja possível compreendê-la.
Em vão seria a tentativa de racionalizá-la.
A razão é para todos,
a paixão, para poucos.

"Falemos de Amor"
O amor sublima a tudo.
Ultrapassa o encanto.
Supera a paixão.
Renova conceitos.
Difícil amar.
É não importar-se com o incômodo,
tomar o destino tal como escrito.
É aceitar as coisas tal como o são,
do outro como apresentado,
da vida como nos é posta.
É impossível amar alguém sem ter odiado,
nem que por um instante apenas,

pelo menor dos motivos.
Mas ante a grandeza do amor,
momentos esses passam rápido,
e às vezes custamos a nos lembrar que um dia existiram.
O amor a tudo supera,
a tudo envolve
a tudo transcende.
A tudo.

Quem nunca por alguém se encantou, nunca sorriu.
Quem nunca se apaixonou, nunca suspirou.
Quem nunca amou, nunca viveu.

quarta-feira, abril 12, 2006

Vai Saber

Não vá pensando que determinou
Sobre o que só o amor pode saber
Só porque disse que não me quer
Não quer dizer que não vá querer

Pois tudo o que se sabe do amor
É que ele gosta muito de mudar
E pode aparecer onde ninguém ousaria supor

Só porque disse que de mim não pode gostar
Não quer dizer que não tenha do que duvidar
Pensando bem, pode mesmo
Chegar
a se arrepender
E pode ser então que seja tarde demais
Vai saber?

Não vá pensando que determinou
Sobre o que só o amor pode saber
Só porque disse que não me quer
Não quer dizer que não vá querer
Pois tudo o que se sabe do amor
É que ele gosta muito de se dar
E pode aparecer onde ninguém ousaria se pôr

Só porque disse que de mim não pode gostar
Não quer dizer que não tenha o que considerar
Pensando bem, pode mesmo
Chegar
a se arrepender
E pode ser então que seja tarde demais

Vai saber?
Vai saber?
Vai saber?

Não vá pensando que determinou
Sobre o que só o amor pode saber
Só porque disse que não me quer
Não quer dizer que não vá querer
Pois tudo que se sabe do amor
É que ele gosta muito de jogar
E pode aparecer onde ninguém ousaria supor

Só porque disse que de mim não pode gostar
Não quer dizer que não venha a reconsiderar
Pensando bem, pode mesmo
Chegar
a se arrepender
E pode ser então que seja tarde demais


Eu já sei...

Letra de Adriana Calcanhoto
Atualmente na voz de Marisa Monte
Eu, com certeza, não faria melhor...

Em breve

Juro que tenho vários textos novos escritos
Daqueles que a gente rabisca num bloquinho
antes de dormir
e guarda em baixo da cama

É a correria do dia a dia
Aquela sempre culpada de tudo
Me me impede de transcrevê-los

Mas como tudo tem o seu tempo
Assim que possível
Se Deus quiser
e a virgem permitir
eu os porei aqui

Enquanto isso
Como (quase) toda originalidade é um plágio não identificado
Veja bem que até essa frase não é minha
Eu vou copiando idéias de outros
Mais brilhantes
Mais eruditos
Mais competentes
E mais organizados

quinta-feira, abril 06, 2006

déjà vu

It's not true that life is one damn thing after another;
it is one damn thing over and over.

Edna St. Vincent Millay
US poet (1892 - 1950)

quarta-feira, abril 05, 2006

Sobre a quádrupla raiz do princípio da razão suficiente

Perdoar e esquecer significa atirar pela janela uma preciosa experiência.
(Arthur Schopenhauer)

Sub-eliminado

Mensagens subliminares são uma coisa curiosa.
Em tempos de governo ignorante, a ordem do dia é seguir o chefe.
E como presidente é presidente e merece até reverência,
criticar a ignorância alheia virou pecado capital.
A nova religião prega até o culto aos incultos.
Em outros tempos, assombrar-se com uma asneira era quase involuntário.
Um ato-reflexo de um cérebro pensante.
Comentar a respeito, um mero passatempo.
Ironizar a situação, a sublimação do momento.
Hoje em dia as coisas são diferentes.
Asnos e asneiras estão por toda a parte.
Misturam-se de forma a ser difícil identificá-los com um olhar superficial.
É preciso analisar a fundo o vácuo,
pois ele vem recheado de discursos enlatados,
daqueles falaciosos, que pensam ser consistentes.
Mas como pensar não é o forte da categoria,
são facilmente desmascarados.
Tudo seria fácil se cada um se colocasse no seu lugar.
Mas não.
Tal qual a revolta dos mortos-vivos, eles se juntam em clãs.
As adagas voadoras surgem de todas as partes.
É preciso ter cuidado.
Comentários a respeito de infortúnios intelectuais tornaram-se capiciosos.
Pode-se correr o risco de não ser compreendido - e pior - mal interpretado.
Em terra de cego quem tem um olho é rei.
Em terra de analfabetos, quem sabe escrever o nome é o Diabo.
O Alienista cultural.
E como dizia Sartre:
"O inferno são os outros"
 
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